Saturday, April 05, 2008
1988 - Cemitério da Silom road. O centro da cidade de Banguecoque começa a crescer e nunca mais parou.
1989 - Era assim a adoração dos mortos no dia Todos-os-Santos. Padres e freiras misturavam-se na multidão
.
Os
mortos também se abatem! Eles os mortos são parte da história de um
Povo. Mas os vivos, que serão mortos, tarde ou cedo, esquecem-se da lei
vida e o que se lhe depara pela frente para alimentar as suas ambições
destroiem: "cemitérios, fazem segundos funerais às ossadas (sem pompa ou acompanhamento) encaixotando-os em pequenos "caixõezinhos" de zinco e zarpam para outras paragens".
.
Vou referir-me aos três cemitérios sitiados logo após a cidade de Banguecoque ter nascido (mais ou menos) nos anos de 1782.
1988-Padre benze com água benta os túmulos, enquanto familiares dos mortos lhe prestam homenagem
Cemitérios
para a comunidade estrangeira que compreendia a de sangues caldeados,
os ateus, católicos, protestantes e confucinanos (chineses).
Parcelas oferecida por Sua Majestade o Rei Rama I.
.
Referirei que os Reis
do Sião em Ayuthaya e depois na era de Banguecoque, desde a fundação do
Reino usaram o sistema de doação, às comunidades estrangeiras, parcelas
de terrenos para residirem, praticarem o culto de seus credos e viveram
em paz. Porém tiverem o cuidado de alojar as comunidades em locais
distintos.
1990- Mausoléus de portugueses que representaram Portugal no Reino do Sião
Isto o vamos encontrar na velha Ayuthaya, onde cada comunidade era proprietária de uma parcela separada de outras comunidades. Os mapas de Ayuthaya bem conta nos dão que assim era. O Ban Portuguete e o banes chineses (com dois campos em lado opostos e junto às margens do rio Chao Praya) foram as parcelas com maior dimensão dado que era as duas comunidades mais populosas na velha capital.
Os banes holandês e japonês eram os
de menor dimensão. O ban dos franceses (Campo de S. José)
embora com alguma dimensão ficavam muito aquém da área do Bangue
Portuguete.
.
Os franceses quando se instalaram em Ayuthaya já os
portugueses ali estavam fixados havia cerca de 130 anos. As três
paróquias do Ban Portuguete (embora só se conheça um cemitério o da paróquia de S.Domingos), acreditamos que a Igreja de S.Paulo (dos jesuítas) e de S.Francisco (dos franciscanos) tiveram os seus cemitérios no adro da igreja, segundo os usos e costumes era ali que os defuntos e os padres eram enterrados.
Cenas "macabras" de fazer arripiar. Um filme real de terror
Com a caída da velha capital em 1767, a comunidade portuguesa, chinesa e malaia (outras comunidades estrangeiras não havia na altura), deslocadas para Banguecoque é lhes doado os próprios terrenos para viverem.
.
A comunidade lusa/tailandesa nos Campos de Santa Cruz e da
Senhora do Rosário reservaram um terreno, junto à igreja, para enterrar
os seus mortos.
.
O Campo Português da Imaculada Conceição já tinha o seu
cemitério há muitos anos dado que antes de Ayuthaya ter caído (1767) o
campo já ali se encontrava há mais de cem anos.
.
A cidade de Banguecoque
na década de quarenta do século XIX e o aparecimento das navegações a
vapor contribuiu para que a cidade começasse a crescer, urbanisticamente
e a desenvolver-se comercialmente.
.
O Reino do Sião, assim se pode
considerar era um país virgem e muito havia para comprar. Madeiras de
Teca, marfim, arroz, cera estanho e muitos outros produtos da terra em
abundância.
A
cidade começa a crescer a partir da área onde existe há 188 anos a
Embaixada de Portugal. A comunidade estrangeira instala nas redondezas
os seus escritório de representações, o Governo os Correios Gerais; os
serviços de alfândega na margem do Chao Praya, instalam-se os bancos e
construídos novos hoteis.
.
A área de negócios situa-se num comprimento de
mais ou menos de uns 400 metros que vai desde o cruzamento da Phayathai
Road com a Chalerm Krung até ao encontro na bifurcação com a Silom
Road.
.
A comunidade estrangeira, constroi ou aluga residências não muito
distante da parte comercial: Suriwong Road, Silom e Sathorn. Nessa
altura a esperança de vida das pessoas, fossem tailandesas ou
estrangeiras, era demasiada curta e felizes eram os que passavam os
cinquenta anos.
.
A insalubridade do local onde as pessoas viviam
dava-lhes ao estarem sujeitas malària outras moléstias dos climas
tropicais e às constantes epidemias.
Os
martelos, profanadores, dos túmulos. Parte os últimos que pertenceram
aos cônsules Leopoldo Luis Flores e o Dr. Joaquim Campos.
O Rei do Sião oferece os terrenos à comunidade estrangeira para enterrar os seus mortos. À de religião protestante, oferece-lhes um largo terreno a uns quatro centos metros ao sul do centro comercial (ainda existente e junto ao Hotel Menam); à católica do Vaticano, ortodoxa e chinesa oferece-lhe ao nordeste e a uns 400 metros do centro comercial , antigo, uma larga parcela. Área, na altura, que eram campos devolutos ou de cultivo. Actualmente o Banguecoque moderno de altas torres de cimento.
Túmulos de luso-descendentes que tiveram a mesma sorte de profanação de outros.
No
conhecido Cemitério da Silom Road, ainda sou do tempo que alí se
enterrava gente, a celebração das cerimónias do Dia de Todos os Santos,
com a família dos defuntos a colocarem flores nos mausoléus e túmulos
dos familiares que partiram para o outro mundo.
.
Abri o portão de ferro
muitas vezes e o visitei. Lá dormiam pessoas cujas lápides designavam
nomes genuinamente portugueses.
.
Eu entrava ali como forma de prestar
homenagem póstuma a gente que nunca tinha conhecido e só mais tarde, nos
arquivos da embaixada de Portugal vim a saber a que famílias tinham
pertencido.
Essas
minhas visitas é uma componente do portuguesismo que segue dentro de
mim... Isto porque, o patriota, quem não se sente não é filho de boa
Pátria.
.
E eu sou-o sem andar em busca de "mordomias" ou de festinhas hipócritas, de sorrisos exteriores e amarelos interiormente.
.
Morei
por um ano, num sétimo andar de um prédio de 23 andares e pegado ao Cemitério
da Silom. Recolhi imagens de funerais e de gente a ocupar-se nos
arranjos dos túmulos e a colocarem-lhe flores de orquídias frescas.
.
Logo
à entrada havia várias campas de luso/tailandeses e três mausoléus: um da família Xavier e dois dos cônsules de Portugal, Luis Leopoldo Flores e do Dr. Joaquim Campos.
.
No mausolém da família Xavier, dentro dormia uma família inteira e o
Celestino que tinha sido uma individualidade grada no no Governo do
reinado do Rei Chulalongkorn.
.
O do cônsul Flores absolutamente
abandonado e o epitáfio no interior as letras apagadas. Comprei uma "mark pen"
e avivei as letras.
.
O do Joaquim Campos, um mausoléu, que alguém, o
mandou construir de cimento misturado com granito miúdo e muito bem
conservado, apenas as letras do epitáfio apagadas e avivei-as.
Levei
o embaixador Lima Pimentel para ver o "massacre" dos mortos. Só
restavam dois mausoléus para destruir. Graças ao meu alarido os restos
mortais dos cônsules de Portugal, tiveram um destino com alguma
dignidade . mas que duvido até quando... Foto do lado direito junto às
urnas de zinco com as ossadas dos dois cõnsules depois e ter assistido à
exumação no dia 26 de Dezembro de 2004.
.
Aquelas duas pessoas, portuguesas, falecidas tinham sido representantes de Portugal no Reino do Sião e mereciam-me respeito.
Aquelas duas pessoas, portuguesas, falecidas tinham sido representantes de Portugal no Reino do Sião e mereciam-me respeito.
.
Mudei-me da torre onde
vivia e a portas do Cemitério da Silom. Mas um dia, passei à beira,
abri o portão e dei com um espectáculo macabro e bem digno daqueles
filmes de terror do "Frankstain".
.
Urnas partidas e fora da
caixa do cimento que tinham sido túmulos e um cheiro, nauseabundo, a
cadáveres. A cal ainda não tinha dessecado os restos corporais daqueles (que julguei)
os desgraçados dos mortos e que os vivos como abutres entraram nas
catacumbas do seu descanso e as violaram.
.
Os mortos como os vivos têm o
direito, mesmo defuntos, de viver na paz dos mortos. Porém eu tinha que
salvar dois mortos e alertei o embaixador Lima Pimentel do "massacre". Enviou uma nota verbal à embaixada da Santa Sé em Banguecoque.
.
Um funcionário (creio diplomata) de batina entendeu-se com o embaixador e acertaram que as ossadas seriam exumadas e levadas para o cemitério novo (propriedade da igreja católica para a província de Nakon Pathon)
e lá seriam construídos os túmulos igualzinhos como estavam no
cemitério da Silom.
.
De facto estão lá mas não estão no lugar que
deveriam estar... Mas escondidos e difícil (para quem não saber como eu sei) os encontrar. O terreno dos "mortos"
ainda se encontra sem qualquer construção... Não sei aquilo que se
passa...
.
Me parece que os mortos se vingaram, da profanação levada acabo
pela "poderosa" Igreja Católica e embargaram o projecto de uma catedral ou de uma escola, porque desde há quatro anos a "terra dos mortos" tomada pelos vivos ainda se encontra devoluta.
José Martins
P.S. Voltarei ao assunto em outra altura
3 comments:
- luis6:38 amamigo JOSÉ MARTINS,que bela reportagem que o senhor colocou ao dispor dos leitores fiquei muito impressionado com a sua atitude de salvagurdar os restos que sobravam dos consulos portugueses. Você é mesmo um beirão com muita força obrigado,LUIS NA COSTA DA CAPARICAReplyDelete
- Amigo Luis,
Continuo agradecer-lhe por ler a minha prosa
Abraço